quinta-feira, 24 de junho de 2010

Pablo Neruda

"Escrever é fácil: você começa com uma letra maiúscula e termina com um ponto final. No meio você coloca as idéias"

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Pararia o tempo naquele dia...



Hoje, eu entrei numa comunidade no Orkut que se chama: “Pararia o tempo naquele dia...”.  Trata-se de uma comunidade onde você escreve sobre algum momento maravilhoso na sua vida em que você gostaria que o tempo tivesse parado. Tentei escrever alguma coisa no tópico  relativo ao tema e não consegui. Fiquei pensando: em que momento eu gostaria que o tempo tivesse parado? Qual o momento mais significativo da minha existência? Não consegui encontrar nenhum.
Olhei alguns tópicos e percebi que muitas pessoas gostariam que o tempo tivesse parado quando estavam junto de alguém muito especial ou um amor antigo, etc.
Lembranças de infância, nem pensar. Minha infância foi péssima. A adolescência, pior ainda. Acho que só consegui melhorar um pouco, depois dos 20 anos. Êpa! Peraí. Agora lembrei, sim, de um momento em que eu gostaria de voltar no tempo, ou que ele tivesse parado: o meu último ano do ensino médio.
Eu tenho por hábito dizer que cada ano passado, para mim é melhor que o anterior, porém, agora, percebo que esse foi o melhor ano da minha vida, até agora. Eu tinha um grupo de amigos fantásticos. Lembro-me agora de alguns nomes mais chegados: Edgard, Expedita, Fátima, Marcos Antonio. Principalmente,  Fátima e Expedita. Éramos inseparáveis. Estudávamos no Colégio Estadual Presidente Humberto Castelo Branco, e, como morávamos perto, inclusive a Expedita morava na minha rua, sempre íamos e voltávamos em grupo, todos os dias. Como estudávamos no turno da manhã, sempre por volta de meio-dia, passávamos numa padaria que havia no caminho, e pedíamos pão, algumas vezes com fome, outras, só por farra. Ainda lembro o gosto do pão: delicioso, quentinho, saído do forno na hora.
Lembro, ainda, que durante as férias do meio do ano, senti uma enorme saudade do meu grupo, e contava os dias para que chegasse o início das aulas. Aliado a isso, eu sempre gostei de estudar, ainda gosto até hoje.
No segundo semestre, aconteceu uma coisa interessante: eu e o Edgard começamos a nos interessar um pelo outro e o grupo percebeu e deu o maior apoio. Sentávamos lado a lado e conversávamos muito. Ele tinha os olhos verdes e eu o achava lindo. Passei o último semestre nas nuvens. Quando terminou o ano, todos estavam tristes, porque sentíamos que seria o final do grupo. Cada um tomaria rumos diferentes e dificilmente permaneceríamos juntos, pois o nosso elo era a escola e não existiria mais.
Realmente, assim foi. Cada um tomou seu rumo. O namoro com o Edgar não continuou. Os pais dele moravam no interior e, depois do término das aulas,  foi passar férias com a família; durante seis meses, não tive notícias dele. Quando ele voltou, eu tinha conseguido entrar na universidade e estava muito empolgada com isso, não fiz questão de continuar o namoro. Encontrei algum tempo depois com o Marcos Antonio na universidade, não me lembro o curso que ele estava fazendo. Ele me falou que o Edgar também estava fazendo o curso de Engenharia de Pesca. A Expedita conseguiu entrar na universidade para o curso de Filosofia, e como morávamos na mesma rua que eu, ainda mantínhamos contato. A Fátima mudou-se e, algum tempo depois, eu a encontrei trabalhando numa ótica. Havia casado e tinha filhos. Ainda cheguei a conhecer a casa dela e a família, mas a amizade não perdurou.
Ainda sinto saudade de todos. De cada um, de uma forma especial. Principalmente agora que estou escrevendo esse texto. Apesar de não estarmos mais juntos, sinto que nunca os esquecerei. Espero revê-los algum dia e, quem sabe, continuarmos nossa amizade. Será isto possível? Isso me lembra um trecho de um texto de Nietsche que eu amo:

Podemos nos cruzar ainda, talvez, e celebrar festas juntos, como já o fizemos antes – e, no entanto, esses bravos navios estavam tão tranqüilos no mesmo porto, debaixo do mesmo sol, que se teria acreditado que tinham alcançado o objetivo, que tinham tido um único objetivo comum. Mas então a força todo-poderosa de nossa tarefa nos separou, empurrados para mares diferentes, sob outros sóis, e talvez nunca mais nos voltemos a ver – talvez nos voltemos também a ver sem nos reconhecermos: tantos mares e sóis nos mudaram!”

             Enfim, o melhor ano da minha vida e as pessoas que fizeram parte dele, perderam-se no tempo. Gostaria sim, que o tempo voltasse, ou que ele tivesse parado nesse ano, pois, definitivamente, esse foi o melhor ano até hoje.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

NEM MULHER DE MALANDRO NEM PATRICINHA, NENHUMA MULHER QUER SER ROTULADA OU CHUTADA!

Lucia Irene Reali Lemos*

Como na música, “todo dia a cidade vem e nos desafia...” e é assim mesmo, todos os dias somos provocadas em nossa dignidade e não é de hoje as lutas dos movimentos e das organizações ligadas ao combate da violência contra as mulheres. Constantemente travamos “ferrenhas” batalhas contra as campanhas publicitárias que utilizam a imagem da mulher em seus produtos e as oferecem como objeto de consumo. A coisificação ta escancarada e o desrespeito cada vez maior.

Esta semana fomos surpreendidas com a deplorável declaração de um desportista, jogador de futebol da Seleção Brasileira, Felipe Melo, ao falar sobre a sua insatisfação com a Jabulani, a bola oficial da Copa do Mundo: "A outra bola é igual a mulher de malandro: você chuta e ela continua ali. Essa de agora é igual a uma patricinha, que não quer ser chutada de jeito nenhum". O que nos leva a várias interpretações podendo entender que tanto a “mulher de malandro”, como “a patricinha”, (sem contar a ofensa dos rótulos) mesmo as duas não querendo, serão vítimas de violência, a diferença é que uma é agredida e se cala e a outra mesmo resistindo e reclamando será agredida também.
O fato é: a famigerada declaração vem carregada de machismo e nas entrelinhas revela a cultura de violência “velada” que existe no “mundo das personalidades” (o que não é nenhuma novidade pra nós), nos levando a uma reflexão sobre a postura do referido e o quanto isso nos transtorna.
Por ironia do destino, (pasmem!) esta é a declaração de um homem que leva a imagem do Brasil gravada em suas vestimentas e em nossas bandeiras (quem sabe, retratando o triste perfil da violência contra as mulheres brasileiras) e foi feita na África do Sul, coincidentemente no país cujo Presidente da Liga da Juventude do Congresso Nacional Africano, Julius Malema, foi levado ao tribunal por empregar um discurso baseado no ódio contra as mulheres. País que segundo estudo efetuado em 2009 pelo Conselho de Pesquisa Médica da África do Sul revelou que um em cada quatro homens entrevistados admitiu ter violentado uma mulher, o índice mais elevado de todo o mundo.
Ora, ora, o referido foi “infeliz” na sua declaração e talvez desconheça o peso de ser mulher em um país cujo continente quase que na sua totalidade é marcado pela desigualdade, pelo machismo e pela violência.
Pesquisas apontam que a África do Sul possui altos índices de violência sexual – cerca de 150 mulheres são violadas diariamente, segundo os dados do Instituto Sul-Africano para Relações Raciais. Sem contar que é muito comum o estupro coletivo (1/4 dos casos envolve mais de um abusador). A estimativa é de que ocorra um abuso sexual a cada 26 segundos. Segundo a Simelela, ONG criada em 2003 para dar apoio às vítimas de abuso sexual na área que abriga entre um milhão e dois milhões de pessoas, 41% das mulheres que sofrem violação têm menos de 14 anos. Só na região da Cidade do Cabo, cerca de 10% deles admitiram ter feito com jovens menores de 10 anos De acordo com os registros da organização, a vítima mais nova tinha um ano, e a mais velha, 76.
Um Continente onde os papéis de gênero são radicalmente definidos e impostos; onde a masculinidade é associada a perversidade, a honra ou domínio sobre as mulheres; onde a punição de mulheres e crianças é aceita; onde a violência é o padrão para resolver conflitos, onde as mulheres são consideradas seres inferiores, como em Serra Leoa que, em tempo de guerra civil, faz com que as tropas rebeldes cometam a barbárie de forçar as mulheres à escravidão sexual. Em Uganda, onde a lei reconhece ao homem o direito de bater na mulher. Onde é praticada a mutilação genital em meninas consistindo na extirpação parcial ou total dos órgãos genitais, práticas estas, comuns em 28 países africanos. Onde é “cultural” os casamentos precoces das meninas na média com 11 anos de idade, o que limita a estas meninas qualquer oportunidade de ter uma vida normal de uma criança com direitos de criança.

Foto DIVULGAÇÃO 
Na camiseta: "Sobreviventes de violência sexual também são gente, e não só  estatísticas. Nós nunca nos calaremos"

Lamentavelmente, várias culturas ainda aceitam, aprovam ou mesmo justificam as diversas atrocidades que são cometidas contra as mulheres, sendo essas atitudes, fruto da desigualdade estrutural e de normas de conduta distorcidas e rígidas a respeito dos diferenciados papéis que homens e mulheres devem desempenhar na sociedade. É urgente que busquemos cada vez mais ações para se banir as crenças da superioridade masculina onde a idéia de virilidade está associada a dominação e a de feminilidade se vincula a imagem preconcebida de submissão, se assim não agirmos estaremos fundamentando e consolidando relações violentas de gênero.
Como não nos indignarmos Felipe Melo? Quando você reproduz um discurso machista-sexista brasileiro, mas que não é diferente dos discursos do resto do mundo. A violência contra as mulheres e crianças ocorre em todos os países, em todos os grupos sociais, culturais, religiosos e econômicos, ou seja, a violência contra a mulher não respeita fronteiras geográficas, nem classe social, raça, religião ou idade.
Mudar o comportamento e as atitudes das pessoas exige um compromisso permanente de conscientização e de denuncia em relação à violência contra as mulheres e a todas as formas de opressão, pois se configuram em violação explícita dos direitos humanos e estas são inaceitáveis.

É Felipe, infelizmente VOCÊ PISOU NA JABULANI 
e marcou gol contra! 

RESPEITO É BOM E TODAS NÓS O EXIGIMOS!

* Lucia Irene Reali Lemos, acadêmica de Administração Legislativa, assessora parlamentar e integrante do Coletivo Estadual de Mulheres do PT do Rio Grande do Sul.
Fonte:  http://luciareali.blogspot.com/