segunda-feira, 29 de março de 2010

Educadores contam como aprenderam com seus erros

Professores têm a competência de verificar habilidades, testar a compreensão de conteúdos e ajudar cada estudante a reconhecer (e superar) os erros. Mas e quando o equívoco vem deles próprios? Fingir que nada ocorreu não é a melhor saída. Ao contrário: se ficar evidente que alguma atividade não deu certo em razão de uma falha pessoal, a autocrítica é fundamental para melhorar a atuação profissional.

O ideal é que essa reflexão seja vivenciada de forma madura, sem culpa ou rigor excessivos (afastando o risco de mergulhar no perfeccionismo, que paralisa a ação) e complacência extremada (resvalando na atitude de quem a todo instante diz "tudo bem, deixa para lá"). Medo ou vergonha são outros sentimentos que não cabem nessa hora. Afinal - não machuca repetir essa obviedade -, todo mundo erra. Mesmo grandes autoridades em Educação, profissionais respeitados que ocupam cargos centrais no governo, pesquisadores de Universidades influentes, formadores de professores e autores de livros que inspiram algumas de nossas melhores aulas.

Nesta reportagem, quatro grandes mestres - Lino de Macedo, Regina Scarpa, Maria do Pilar e Mário Sérgio Cortella - discutem os equívocos na atuação profissional de uma maneira bastante peculiar: contando as próprias experiências (leia os depoimentos nas próximas páginas). Alguns tropeços podem parecer familiares: falar demais e alongar a parte expositiva, despejar conteúdo sem levar em conta o ritmo dos jovens e seu universo cultural, desconsiderar as necessidades de alunos com deficiência e negar o próprio papel ao levar em conta somente os interesses das crianças.

A lista de falhas é diversa, mas a postura para avançar é a mesma: analisar o que falhou, por que e como isso ocorreu. Muitas vezes, basta o distanciamento temporal do deslize para percebê-lo. Em outras ocasiões, são as conversas com os colegas que nos trazem o alerta e, em muitos casos, o estudo e a leitura são importantes aliados para a reflexão.

"Todos nós erramos algumas vezes, ou seja, pensamos ou agimos de um modo que um dia terá, talvez, que ser revisto", afirma Lino de Macedo. Essa revisão de ideias, pensamentos e ações exige uma visão relativista do erro - isso significa ter em mente que o que não funciona em uma determinada classe, num determinado momento, pode muitas vezes dar certo em outro contexto. Confira nas páginas seguintes o relato de cada um. Com a coragem de apontar seus próprios equívocos, eles nos indicam caminhos para superar nossos desafios.

Leia os depoimentos no link: Depoimentos

Fonte: Revista Nova Escola

sábado, 20 de março de 2010

Almas perfumadas


Definição do amor
Definir o amor é limitá-lo, encarcerá-lo numa redoma de palavras incompletas.

O que é o amor?
Esta pergunta foi feita para um grupo de crianças de 4 a 9 anos, durante uma pesquisa feita por profissionais de educação e psicologia. E ninguém melhor do que uma criança, e a pureza de seu coração, para tentar explicar o que é o amor...

“O amor é quando alguém te magoa, e você, mesmo muito magoado, não grita, porque sabe que isso fere os sentimentos da pessoa.” Mathew, 6 anos.

“Quando minha avó pegou artrite, ela não podia se debruçar para pintar as unhas dos dedos dos pés. Meu avô, desde então, pinta as unhas para ela, mesmo quando ele tem artrite.” Rebecca, 8 anos.

“Amor é como uma velhinha e um velhinho que ainda são muito amigos, mesmo se conhecendo há muito tempo.” Tommy, 6 anos.

“Quando alguém te ama, a forma de falar seu nome é diferente.” Billy, 4 anos.

“Amor é quando você sai para comer e oferece suas batatinhas fritas, sem esperar que a outra pessoa te ofereça as batatinhas dela.” Chrissy, 6 anos.

“Amor é quando minha mãe faz café para o meu pai, e toma um gole antes para ter certeza que está do gosto dele.” Danny, 6 anos.

“Quando você fala para alguém algo ruim sobre você mesmo, e sente medo que essa pessoa não venha a te amar por causa disso. Aí você se surpreende, já que não só continuam te amando, como agora te amam mais ainda!” Samantha, 7 anos.

“Há dois tipos de amor: o nosso e o amor de Deus. Mas o amor de Deus junta os dois.” Jenny, 4 anos.

“Amor é quando mamãe vê o papai suado e mal cheiroso e ainda fala que ele é mais bonito que o Robert Redford!” Chris, 8 anos

“Durante minha apresentação de piano, eu vi meu pai na platéia me acenando e sorrindo. Era a única pessoa fazendo isso e eu não sentia medo.” Cindy, 8 anos.

“Quando você ama alguém, seus olhos sobem e descem e pequenas estrelas saem de você!” Karen, 7 anos.

Temos muito que aprender com as crianças, sim. E muito mais a aprender com o amor, e sobre ele. Pequenos gestos, grandes sacrifícios anônimos, olhares, sorrisos – tudo faz parte deste universo sem fim chamado amor...


***

O amor é um sentimento, mas também um estado de espírito.
Ele é uma busca, mas também é o caminho a seguir.
Ele é um objetivo, porém também o meio mais sublime de se alcançar.
O amor é alimento, consolo, passado e futuro.
É presente no tempo e no gesto de se dar.
É a maior descoberta da vida. É a maior bênção da vida.
E se a fé poderá mover montanhas inteiras, o amor então terá o poder de construir cordilheiras...

quinta-feira, 11 de março de 2010

Mulheres são melhores

Os homens que me perdoem, mas as mulheres são essenciais, as mulheres são melhores. Falo no geral. Na questão particular da sensualidade e da sexualidade, então, lembro Chico Anísio: “mulher é um negócio tão bom, que elas mesmas estão descobrindo isso”. Não quero polemizar, até porque meu lado mulher é superdesenvolvido, graças a Deus e à minha mãe – artista plástica, professora de artes e amante da música e da poesia -, mas meu lado mulher é lésbico. Assim, amo a alma feminina (e seu invólucro) e penso que as mulheres são essenciais, que as mulheres são melhores. O show de Maria Gadú, no final de semana, foi mais uma prova. Gadú é sensacional, um espetáculo de intérprete, um timbre maravilhoso, que aos 21 deixou de boca aberta quem ama música nesse país. E aos 22 hipnotiza teatros e bares com seu jeito tímido, meigo e de moleque. É moleque mesmo, porque quando ela entrou no palco do Centro de Convenções, com o cabelo escondido num boné, óculos escuros, camisetão, jeans e tênis tipo all star, a impressão que tive foi de que entrava um garoto skaitista, um moleque, não uma moleca. Isso faz parte do fascínio que ela excerce sobre a mulherada jovem. Não sei, nem vem ao caso, a questão da sexualidade da Gadú. Se é marketing ou opção, ou só jeitinho mesmo. Tampouco da platéia. O fato é que 70% do público era feminino e o show não teria sido a maravilha que foi, não fosse a presença maciça das mulheres, porque elas são essências, elas são melhores, porque a alma delas está degraus acima da alma de nós homens. Se a maioria fosse de homens o show teria sido outra coisa, obviamente muito mais sem graça, porque somos mortos por natureza e se não formos motivados por sexo e cachaça a coisa não anda, desanda. Produzidas e perfumadas femininamente, as garotas amam a Maria Gadú moleque, mas meiga, muito meiga; e tímida. Elas cantaram juntas todas as músicas, o que deve ter surpreendido aqueles que foram lá conhecer a revelação musical de 2009 pelo júri da Associação Paulista de Críticos de Arte, com apenas 22 anos.

Aí fico pensando pela luta das mulheres para serem iguais aos homens. Desculpe, mas querem ficar piores. Querem ser chefe igual, fumar igual, beber igual, transar igual, ser predadoras igual, viver igual e morrer igual, dos mesmos cânceres, dos mesmos ataques cardíacos, e dos mesmos avecês. E somos tão diferentes! A história recente da humanidade, leia-se a partir da modernidade, é a história da razão, e a razão tem pinto, é fálica. Porque razão é coisa de homem, é coisa maior; e emoção é coisa de mulher, coisa menor. Homem é pensamento, mais importante – quase toda a importância - mulher é sentimento, desimportante. Por obra e graça de Descartes que disse o famoso “penso ,logo existo” e depois do Iluminismo e seu empenho pelo desencantamento do mundo através da dissolução dos mitos, crenças, superstições, e também da imaginação, o que construímos foi esse fracasso – um mundo insosso, injusto, machista, anti-mulher, anti-poesia, anti-beleza. Construímos um mundo capenga, mutilado, onde um lado, o lado da mulher, sua essência, e tudo que lhe é cabível e atribuído ficou como menor; e o outro, o lado do homem, ficou como maior. Foi a vitória da denotação fria e direta, sobre a conotação rica e subjetiva. Foi a vitória da reta sobre a curva. Foi a vitória da matemática sobre as artes. Da cientificidade e do culto à tecnologia sobre a mística e a poesia. Foi a vitória do homem que não chora sobre a emotividade. Enfim, Deus criou o homem e este criou um mundo macho. E agora as mulheres, que são tão melhores, tão mais sensíveis, por essência, tão mais estetas e estéticas, querem esse mundo pra elas. Se pensarmos que a metade dominada, melhor na essência, adota o modelo da metade dominadora, pior por excelência, cabe perguntar: que ser vai sair daí? Quem viver verá. Agora a fase é de transmutação e de confusão. As publicidades e reportagens da mídia, nessa segunda-feira, Dia Internacional da Mulher, mostraram bem isso. Ora a mulher é homenageada como mãe, esposa e dona da vida, um modelo antigo e ligado à dominação; ora como executiva, mulher que trabalha e constrói carreira de sucesso, um modelo moderno, mas masculino, porque a única referência é o mundo fálico.

Mas que igualdade é essa? Fromm vai dizer que é a “igualdade dos autômatos, dos (...) que perderam sua individualidade”. Buscamos a igualdade em vez da unidade. “É a mesmice dos que trabalham nos mesmos serviços, têm as mesmas diversões, lêem os mesmos jornais, experimentam os mesmos sentimentos e as mesmas idéias”. Essa tal igualdade bem poderia ser chamada de padronização. Querendo essa igualdade em vez da unidade, “homens e mulheres deixam de ser pólos opostos para serem os mesmos pólos”.

Mas a esperança ressurge quando assisto um show como o de Maria Gadú. Porque a diferença da essência parece estar preservada. E se as mulheres conseguirem comandar o mundo, o que me é inexorável, poderemos realmente viver num novo planeta, com mais boniteza, mais emoção, um planeta mais metafórico, transcendental, justo e meigo, enfim. Mas para isso é preciso que essa transmutação não esmague a diferença, não sufoque a essência do ser feminino. Se a essência permanecer, como deve permanecer, teremos os homens buscando imitar as mulheres e teremos um Iluminismo às avessas, com um novo encantamento do mundo, no melhor sentido, um “engraçamento” do mundo. E lembrando Pepeu Gomes se “ser um homem feminino, não fere o meu lado masculino”, espero que sendo mulheres masculinas, elas não firam nem mutilem o seu lado feminino. Aí terá valido toda essa zorra da sociedade capitalista contemporânea confundindo igualdade com unidade, garrafas e camas com liberdade, pólos opostos com pólos iguais, individualismo e quantidade com felicidade. Se a nova mulher ajudar a desconstruir esse velho e mutilado ser humano que somos todos, e ajudar a construir um novo ser, hibridizando, fazendo um mix do melhor dos dois lados, com uma puxadinha maior pro lado dela, terá valido a pena toda essa zorra agora. Parodiando Maria Gadú na obra-prima Altar Particular, estamos “com tudo a flutuar no rio, esperando a resposta” do tempo. E os homens que me perdoem, repito, mas as mulheres são essenciais, as mulheres são melhores.


Luiz Gonzaga Capaverde é jornalista, professor universitário, mestre em Filosofia e escreve a coluna Olho na Rua às quintas-feiras no O POVO Online

Fonte: O Povo Online

quarta-feira, 10 de março de 2010

Migalha sexista

Dia Internacional da Mulher.

Dia internacional da demagogia machista.

Dia dos canastrões tentarem fazer bonito com o sexo oposto.

Dia das matérias deprimentes sobre a afirmação feminina na sociedade.

Dia das mulheres aceitarem essa esmola moral de que não precisam.

Dia de receber flores protocolares e tristes em homenagens fajutas.

Dia de justificar a existência dessas feministas do governo que embargam propaganda de cerveja em hipócrita defesa da honra feminina.

Dia das feministas que vivem do fetiche da opressão.

Dia de reverenciar a mulher como se ela fosse o mico-leão dourado.

Dia da gentileza dos homens que cometem 364 dias de grossura.

Dia do Adriano não ir a baile funk deixando a noiva em casa.

Dia de festejar Kathryn Bigelow, a grande vencedora do Oscar, não porque tem talento, mas porque usa saias.

Dia de exaltação preconceituosa a mulheres presidentes, empresárias e líderes – submetendo seus méritos ao seu sexo.

Dia de tratar a metade mais fértil e bela da humanidade como um souvenir.

Dia de eternizar o lamentável clichê do sexo frágil.

Dia das mães, filhas, avós, esposas, amantes e mulheres de todo o mundo dizerem: não queremos essa migalha sexista que é o Dia Internacional da Mulher.

terça-feira, 2 de março de 2010

Lei Maria da Penha - 8 de março, dia internacional da Mulher

Para advogados, a Lei Maria da Penha contribuiu para o reconhecimento legal da evolução do conceito de família, incluindo aquela formada por pessoas do mesmo sexo

No dia 7 de agosto de 2006, foi sancionada a lei n.º Lei 11.340, que pune a violência doméstica e familiar contra a mulher e recebeu o nome de "lei Maria da Penha" como forma de homenagear a pessoa símbolo da luta contra a violência familiar e doméstica. Maria da Penha Fernandes foi vítima de duas tentativas de homicídio por parte do ex-marido e ficou paraplégica. A punição do agressor só veio 19 anos e 6 meses depois.

Além de criar mecanismos necessários à punição, a lei traz um avanço ao considerar que a sua aplicação independe da orientação sexual das pessoas envolvidas.

Os advogados Iglesias Fernanda de Azevedo Rabelo e Rodrigo Viana Saraiva, em artigo publicado no site Jus Navigandi explicam que a doutrina e a jurisprudência admitem a união homoafetiva, respeitando-se os requisitos da união estável, como entidade familiar. No entanto, não havia uma lei federal que permitisse uma interpretação nesse sentido.

Em seu artigo 5º, a lei Maria da Penha veio, segundo eles, suprir a lacuna da legislação, reconhecendo uma situação que já está presente na sociedade. "A legislação apenas acompanha essa evolução para permitir que, na ausência de sustentação própria, o Estado intervenha para garantir a integridade física e psíquica dos membros de qualquer forma de família".

Leia a íntegra do artigo de Iglesias Fernanda de Azevedo Rabelo e Rodrigo Viana Saraiva

Veja o que diz o art. 5º:

"Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial:

I - omissis

II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa;

III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.

Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual."